Governo deu "vitória política e cultural" à extrema-direita

O secretário-geral do Partido Socialista, José Luís Carneiro, acusa o Governo de ter dado uma “inimaginável vitória política e cultural” à extrema-direita com a aprovação da nova lei de estrangeiros que introduziu mais barreiras ao reagrupamento familiar de imigrantes e aumentou as restrições à entrada de estrangeiros em Portugal com vistos de trabalho.
Num artigo de opinião publicado na edição deste domingo do Público, José Luís Carneiro lamentou que, em vez de se focar nos assuntos prioritários da habitação, da saúde e da economia, o Governo tenha preferido “fazer sua a prioridade maior da extrema-direita”, aproximando-se do Chega na modificação da legislação sobre a imigração.
“E eis que, de repente, não se fala de outra coisa senão de imigração, de nacionalidade e de insegurança, numa mistura perigosa e sem sentido”, escreveu Carneiro. “O Governo decidiu avançar em marcha forçada para uma alteração da lei da imigração, de mãos dadas com o Chega, com total desprezo pelo papel das entidades que poderiam, e deveriam, emitir parecer num assunto de tamanha sensibilidade. E, pior, consagrando soluções que representam um grave retrocesso civilizacional, que impedem o reagrupamento familiar e prejudicam a integração dos imigrantes, e que atentam contra os direitos humanos e contra a Constituição.”
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Carneiro diz, ainda, que convém “não esquecer que Portugal é um país de emigrantes” e que, por isso, “há uma coisa que nunca fizemos nem devemos fazer: dar aos imigrantes que nos procuram menos direitos do que aqueles que sempre exigimos, e bem, para os portugueses que vivem lá fora”.
Para o líder socialista, o Governo já deixou cair as linhas vermelhas que o separavam da extrema-direita. “O ‘não é não’ — tão repetido na campanha eleitoral — passou à História”, escreve. “A primeira marca deste Governo foi dar à extrema-direita uma inimaginável vitória política e cultural, que terá graves consequências no país e nas nossas relações com os países de expressão portuguesa. Com essa atitude — lamento dizê-lo — o senhor primeiro-ministro tornou-se corresponsável pelo ambiente inamistoso que os imigrantes começam a encontrar por toda a parte e pelos incidentes de ódio que possam vir a acontecer.”
C0nsiderando o rumo tomado pelo Governo como “um erro grave, com consequências muito graves”, Carneiro afirma que o PS esteve disponível para ajudar a encontrar “as melhores soluções” para o país. “Isto não começa bem”, sentencia o líder socialista, acusando o Governo de Luís Montenegro de levar a cabo “medidas avulsas com objetivos meramente eleitoralistas” e sem uma “visão”, um “rumo” e uma “estratégia”.
No artigo, Carneiro lembra que a AD está no poder há “quase um ano e meio” e acusa ainda Luís Montenegro e o seu Governo de falharem em toda a linha nas três grandes prioridades que definiram para o país — a habitação, a saúde e a economia. “Há hoje um evidente desencontro entre as prioridades do Governo e as prioridades da Nação”, assegura Carneiro. “O país não pode deixar de estar surpreendido.”
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